terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"A clareza e a sinceridade costumam ser brutais ou, no mínimo, desconcertantes."

Miguel Esteves Cardoso
Como sempre, nesta altura do ano, sinto-me mais frágil. Quando me comecei a aperceber que todos os anos por esta altura era a mesma coisa, optei por olhar à volta com mais atenção e ver se era só eu ou se mais alguém parecia sentir a mesma coisa. Foi sem surpresa que reparei que andamos todos um bocadinho na mesma.
Como se o final de um ciclo já não bastasse para nos pôr neste estado, as reuniões de família vieram juntar-se-lhes para o quadro estar completo. Em Dezembro, de facto, junta-se tudo.
Primeiro, vem o Natal. Com ele, vêm as reuniões de família, os jantares e os almoços em que se faz de conta. Faz-se de conta que apetece estar, que é mais uma celebração da união da família, que não houve desgostos com os familiares o ano inteiro. Ou se engolem as divergências em nome do Natal, ou, pura e simplesmente, muda-se a rota e está-se com quem não se é tão próximo e, por isso, com quem não se teve nenhum tipo de aborrecimento, ou vai-se para um destino em que seja verão e o Natal renegado.
Depois vem a passagem do ano. Ele são as promessas feitas à pressa de melhorar isto e aquilo, o beber para esquecer, o ter de se divertir forçosamente, o balanço do ano que passou, dos anos que passaram, de uma vida. São os desejos, o pensar nos outros e em como tudo poderia ter sido diferente.
Entre o faz de conta e o fazer contas, os sentimentos e as emoções andam num turbilhão. Venham os dias da vida normal.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Dantes

Faz-me alguma confusão a fobia que a maioria das pessoas tem do passar do tempo, o estarem sempre a queixar-se que as coisas eram boas quando eram novos e a recordarem o que já lá vai. Não me refiro aos, de facto, idosos, a quem faltam as capacidades mais básicas e que pouco mais fazem do que passar os dias. Refiro-me sim a gente que tem trinta e tais e que diz que era bom era se tivesse 20, a gente de cinquentas e que diz que era bom era aos vinte e por aí fora.
Ou sou eu que sou demasiado optimista e ignorante por falta de experiência, ou há uma gosto generalizado pela lamichice do que já lá vai.
Para mim, nenhuma idade das que passei até hoje é melhor do que a que estou no momento. Gostei de ser criança, gostei de ser adolescente, de andar na Faculdade, etc, etc, mas não trocava o momento presente por nenhum desses que já lá vai. E se eles foram bons! Foram bons e aproveitei-os enquanto lá estive da melhor maneira que pude e soube. Não sou é saudosista ao ponto de querer muito repetir ou pedir ao tempo que volte para trás. Cada idade tem a sua piada, as suas coisas boas e as suas coisas más, obviamente. Mas o processo tem de ser evolutivo, ascendente. A vida é esse conjunto de experiências que acrescentam e enriquecem e o saldo tem sempre de ser positivo. Se não é, parece-me a mim que ou houve um baixar dos braços perante a vida ou opções erradas. Só que, em lugar de a pessoa passar a vida a lamentar-se e a viver de recordações, há que ser empreendedor e dar a volta por cima. Fazer análises, balanços, aprender com os erros, ver onde é que começou a correr mal, apurar razões e recomeçar. Custe o que custar. Em lugar do "dantes é que era", pensar "agora é que vai ser". E fazer por isso.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fico tão lixada, mas tão lixada quando deixo passar coisas únicas por excesso de trabalho!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pérolas a porcos

Depois de terem passado mais de 12 horas sobre o jantar de ontem e de, mesmo assim, não conseguir sequer imaginar-me sequer a olhar comida quanto mais a comê-la, dou por mim a pensar que há certas coisas que, para mim, são perfeitos desperdícios, o vulgar "dar pérolas a porcos", sendo eu, evidentemente, o porco.
Toda a gente tem os seus prazeres na vida, aquilo que gosta de fazer, aquilo a que realmente dá valor. Eu tenho alguns, do mais trivial que se possa pensar. Gosto de um banho de imersão demorado, gosto de um Martini e um cigarro ao final da tarde, de um livro que me prenda horas sem fim, de descobrir música nova, de roupa e de jóias e de maquilhagem, gosto de ir à manicure. Gosto tanto de dançar. Estas coisas dão-me realmente prazer. Quando acabo de as fazer sinto-me bem. Enquanto as faço, sinto-me eu.
Agora comer, realmente, não. Como porque tem de ser, porque não posso sobreviver de outra maneira, mas até tenho esperança que, um dia, inventem um susbstituto qualquer. Não tenho paciência para estar à mesa que tempos, nem estômago para comer pratos atrás de pratos. Nem gosto de pagar uma conta brutal num restaurante. Não dou esse dinheiro por bem empregue e pronto.
Por isso, ir degustar um menu com sete pratos é, para mim, um absoluto desperdício. Já estava fartinha de comer, fiquei mal disposta logo a seguir e ainda me sinto enfartada. Reconheço que a comida era óptima, a imaginação muita e a apresentação dos pratos absolutamente deslumbrante. Fica a experiência.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Transparência

Nos dias que correm, a menos que a minha realidade seja muito desfasada da dos outros, um relacionamento só acontece porque ambas as partes querem. Já não há casamentos porque tem de ser nem namoros forçados. Num universo cheio de oferta, em que cada um vive e experiencia o que bem lhe apetece, com quem lhe apetece e quando apetece, não há razão nenhuma, para além da vontade própria, para alguém assumir um compromisso com outrém. Pode até ser difícil dizer que não porque o(a) outro(a) tinha todas as qualidades para nos fazer ir mais além, mas se não há o clic que prende e que faz querer, não há volta a dar-lhe e pode demorar tempo e o fim ainda não se ver, mas que e certinho, é.
Assim, eu junto-me contigo porque te acho especial e acima da média que conheço e tu juntas-te comigo exactamente pelas mesmas razões.
Está bem que a média que eu conheço não é aquela que poderei vir a conhecer e, como tal, aquilo que, hoje, eu acho o melhor, pode não o ser amanhã. Pode. Mas esse é o risco inerente à vida em geral e não apenas aos relacionamentos. Cabe ao próprio, enquanto presente do outro, fazer por ser futuro e por se tornar sempre o melhor. Que isto de fácil não tem nada e que o risco é grande, são dois factos. Mas que é a única maneira de vingar, é. Aliada, claro está ao recíproco, ou seja, à relatividade do outro ser o melhor. Complicado? Eu explico. Podemos deixar de ser o melhor para o outro, podemos. Mas o outro também pode deixar de ser o melhor para nós. E isso não resolve, mas ajuda.
Por isso é que me custa a perceber a falta de transparência nos relacionamentos. São as sms às escondidas e os telemóveis no silêncio, os e-mails apagados assim que são enviados e recebidos, os lugares onde não se quer ir a dois, a ausência de identificação de com quem se está ou esteve e a omissão informação sobre onde se esteve ou mesmo a mentira.
Se com quem se esteve, a quem se escreveu ou a quem se telefonou não é importante ao ponto de abalar o sentimento pela pessoa com quem se está, porque razão não partilhar essas informações? Porque razão fazer crer ao outro que nada disso existe? Quem está connosco conhece-nos bem, sabe ler nas entrelinhas e ver aquilo que não se mostra. Dependendo da personalidade de quem está connosco, das quatro uma:
- ou se faz de parvo e deixa andar, porque, de facto, nada disso o afecta e até entende que, apesar de ridículo, é uma tentativa de manter um mundo próprio capaz de testar a capacidade de sedução nos outros;
- ou arranja uma confusão do caraças e discussões de meia-noite e se torna inseguro, chato e caminha para o fim;
- ou põe um ponto final ao relacionamenteo, porque não é isso que quer;
- ou faz exactamente a mesma coisa.
Seja lá qual delas fôr, o mais certo é ser o princípio do fim de algo que até poderia ter sido bem bom.

Gostos

Num dia que não posso precisar, li um post num blog em que o Autor afirmava pereptoriamente, entre outras, não gostar de Leiria. No dito post, enumerava umas quantas coisas de que não gosta, sem se alongar em explicações. Nos comentários ao post, seguiram-se uma quantidade de "ataques" ao Autor, vendo-se este obrigado a explicar os motivos por que não gostava, motivos esses que foram rebatidos, em resumo, com a ignorância sobre o local.
Não fiquei a pensar nos "ataques" gratuitos, nem me insurgi contra a forma como os comentadores expressam o seu desacordo com o que está escrito nem com as considerações que teceram ao Autor enquanto pessos, que para esse peditório já eu dei há muito tempo.
Fiquei foi a pensar porque raio é que temos quase sempre de explicar o porquê dos nossos não- gostos exaustivamente.
Se repararmos bem, com os gostos não acontece a mesma coisa. Dizer a alguém que gostámos de um filme porque era giro, chega, de uma pessoa porque era fixe, chega; de um restaurante porque se comia bem, chega. Não é cá preciso grandes divagações sobre o que é ser giro, fixe ou bom. A menos que o interlocutor discorde, um adjectivo positivo chega e sobra. Arranca um sorriso e augura um futuro com empatia.
Agora se dizemos que o filme era uma merda, que não achámos piada a A ou a B, que a comida não era nada de especial, lá vêm as quinhentas perguntar para fundamentar o não gosto, a expressão retorcida, o pensamento íntimo de que deve ser ou uma pessoa esquisita ou intratável e a questão sobre onde é o nosso caixote do lixo (esta então, abomino!).
Os não-gostos são tão subjectivos quanto os gostos. Não há uma explicação racional para o facto, não há uma resposta completa a dar. Faz parte dos sentimentos, do irracional, do subjectivo de cada um. Da forma de sentir e de ver a vida. Tão simples quanto isso. Por isso é que se costuma dizer que os gostos não se discutem (lamentam-se). E o mesmo deveria dizer-se dos não gostos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Hoje parei para olhar para ti. Nem te apercebeste que te olhava mais demoradamente do que o costume enquanto o semáforo não mudava para a côr de nos deixar passar. Foi a escuridão dos óculos que me deixou aperceber-me que o tempo de te fez diferente e que eu não me dei conta. Não te olhava há tanto tempo por te ver todos os dias que nem me tinha dado conta das mudanças. Se não me ponho a pau, qualquer dia, não te conheço. As tuas mãos mudaram: as tuas unhas já não são as tuas, mas essas que podem ser de qualquer uma, mas o anel que te dei continua lá, no dedo de sempre, e não te atrapalha na maquilhagem que agora fazes dentro do carro de frente para o espelho minúsculo que está por detrás da pala. Trazes todo um arsenal dentro da carteira que vais pondo pelo caminho para cobrir os traços do tempo que não tem sido generoso contigo. Abusas da base e do rímel. Os teus saltos aumentaram, os teus decotes também. O teu cabelo clareou. Quntas diferenças encontro em ti! E o resto? Estará diferente? Não sei o que mudou em nós. Não tenho estado praí virado. Entrámos numa rotina tal que nem me lembro bem de ti. Sei que partilhamos a comida e a cama, a viagem de ida para o trabalho, as contas e ... pouco mais. Já me esqueci do que gostas, do que te faz rir. Há quanto tempo não te ouço uma gargalhada! Há quanto tempo não te vejo uma lágrima! O semáforo mudou de côr. Fixei os olhos na estrada e parei à porta do teu trabalho. Saíste do carro e atiraste a porta com um bom dia. Apenas. Sem beijo.

Jantares de Natal

Isto das tradições assemelha-se mais às imposições que outra coisa. Ano após ano, grande parte da população (mundial, eu diria) vê-se obrigada a participar em rituais colectivos para os quais não tem a mínima paciência; mas também não tem a coragem de assumir um "não".
Com a aproximação do Natal, tudo isto tem tendência a acentuar-se.
Os fretes familiares a que a maioria das pessoas se vê obrigada, como sejam deslocações para trás do sol posto quando não apetece nadinha para um jantar e um almoço com família que diz menos que os amigos e uma noite numa cama estranha não são nada quando comparados com os jantares de Natal profissionais.
Neste mês, abundam as confraternizações que não acontecem durante o ano uma única vez. Ele é e-mails cheios de enfeites de Natal acompanhados por ementas e sugestões de restaurantes, ele é telefonemas entre colegas para saber quem vai e assim poder situar a sua vontade, ele é telefonemas a pedir confirmações, ele é tentar saber se a chefia vai. Ele é, basicamente, o diz-me quem vai, dir-te-ei se vou, que a vontade não é nenhuma mas não quero ficar mal na fotografia.
Nessa noite, vai-se casual-formal, cada um senta-se perto de com quem mantém alguma afinidade, come o mais rápido possível, faz conversa de circunstância q.b., evita-se beber a mais, se possível passa-se o tempo agarrado ao telemóvel, presta-se atenção a quem inventa a primeira desculpa para ter de ir embora e segue-se-lhe os passos. No caminho para casa, jura-se que no ano seguinte não se vai, doa a quem doer. No dia útil seguinte, diz-se mal de tudo e de todos, mas sorri-se nos corredores e diz-se a quem interessa que estava tudo muito bom.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Re-start

Cria-se um blog e escreve-se. Não importa sobre o quê nem sobre quem. Escreve-se apenas porque apetece. Lêem-se outros, comenta-se. Comentam-nos. Torna-se um hábito visitar e ser visitado. Mandam-se e-mails e sai-se do pseudo-anonimato da blogoesfera para a familiaridade de números de telefone, almoços e jantares. Criam-se amizades, empatias, cumplicidades, correntes de afectos que se adicionam aos favoritos e aos contactos do messenger. Criam-se antipatias, mal-entendidos e desavenças. Assemelha-se tudo à realidade da vida. Deixa de se escrever o que apetece com medo de ferir susceptibilidades. E escreve-se outras tantas para ferir. O que, ao início, parecia uma libertação e um escape, acaba por tornar-se mais uma amarra. Um dia, acaba. Deixa-se para trás o pseudonimo e o blog. Começa-se outro noutro lado qualquer. E escreve-se autenticamente. Até ser possível. Depois, começa-se tudo outra vez.