quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Silêncio

Num dos curtos silêncios de quem (ainda) tem um ror de conversa para impressionar, comentaste o silêncio do casal de longa data (presumiste) da mesa do lado. Perguntaste em tom de crítica retórica qual seria a vantagem de aquele casal sair de casa para jantar se ptinham passado a maior parte do tempo calados, sem trocar uma palavra que não se reduzisse a pedir os pratos, a elogiá-los e a pedir a conta. Limitei-me a sorrir (-te) e a sentir que esse comentário foi o claro fim daquilo que eu imaginei pudesse vir a ser uma história cujo tipo ainda não estava definido.
Quem não consegue perceber a cumplicidade que o silêncio permite e o à-vontade que pressupõe partilhar o silêncio com alguém, percebe pouco da condição humana. Haverá algo melhor que não ser forçado a dizer nada? Haverá algo melhor que ter alguém ao lado cujos pensamentos em silêncio não nos incomodam? Terá o silêncio de significar forçosamente ausência de interesse pelo outr? Ou poderá significar respeito pelo espaço alheio e pelo outro? Serão os casais que se desdobram em palavras mais completos? Uma troca de olhares e um toque na mão não significará muito mais o que uma frase?
Se, ao menos, soubesses que tinhas falado demais...