sexta-feira, 27 de março de 2009

Quando somos pequenos, é com frequência, e com alguma esperança de sermos engraçadinhos e de conseguir provocar algum colorido no mundo acinzentado dos adultos, que nos bombardeiam com a famosoa pergunta "O que queres ser quando fores grande?'". Vamo-nos tornando (ou tentando) grandes e vamos sendo, a maior parte das vezes, alguém bem distante daquele(a) em que achávamos que nos íamos tornar. Tornamo-nos alguém e essa pergunta deveria deixar de existir ou deveria deixar de fazer sentido. Só que a vida é feita de futuro, de quereres e de vontades e de circunstâncias, de caminhos cruzados e de opções constantes que traçam o nosso destino mais à frente. O que queremos hoje, pode já não fazer tanto sentido amanhã. Quem escolhemos para fazer parte do presente pode encaixar no nosso futuro (ou vice-versa). E questionamos muitas vezes o sentido que a nossa vida está a levar. Muitas vezes, partimos a louça, damos uma reviravolta e começamos tudo de novo. Não do zero, mas com o saber feito da experiência e com a capacidade de auto-análise e de percepção mais apurada. E a pergunta "o que queres ser quando fores grande?" continua lá. Só que, desta vez, feita por nós.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Se nos cruzamos com alguém que já não víamos há algum tempo e essa pessoa nos diz "Nem te conhecia! Estás muito bonita!", será um elogio?

terça-feira, 24 de março de 2009

"A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez."

Friedrich Nietzche

segunda-feira, 23 de março de 2009

Somos geniais a agarrarmo-nos a uma réstia de esperança e a fazer castelos no ar, a imaginar um golpe de sorte que poderá mudar tudo e a convencermo-nos que, se acreditarmos mesmo, se fizermos muita força, até pode ser que aconteca aquilo que tanto queremos.
Para ser absolutamente sincera, estou-me completamente nas tintas para o futebol. Para o jogo em si e para tudo o que o envolve. O jogo, em Portugal, é mau que se farta. O futebol português é arrastado, parado, sem construção de jogadas, com muitas faltas e insultos, paragens por tudo e por nada. O que o rodeia é pior: são vidas pouco transparentes, cheias de trafulhices, é ver quem é que engana o próximo e se acha mais esperto por isso, são envelopes e mais envelopes e processos que nunca dão em nada, são agressões constantes, são adeptos fantáticos, é gente tendenciosa a defender a sua equipa acima de tudo, treinadores de bancada, flash interviews sem jeito nenhum e conferências de imprensa em jeito de assunto de estado. Acima de tudo, é aquela coisa de que toda a gente parece perceber. (E muito.) De que toda a gente consegue falar, opinar, aconselhar, discutir, intervir.
O motor desta petição, o doutorado em futebol, Rui Santos, nem sequer é personagem com quem simpatize por aí além. A seriedade que quer impôr às coisas do futebol, as comparações mais ou menos cultas que faz a cada passo e o paralelismo com as coisas que relamente interessam ao mundo, irritam-me solenemente. Mas não são as minhas embirrações pessoais que práqui interessam.
Assinei porque, como em tudo na vida, acredito que as coisas se devem passar de forma justa. Os roubos que se passam mais ou menos ostensivamente no mundo do futebol, causados ou causadores, de actos de corrupção e de enriquecimentos relâmpago, devem ser efectivamente combatidos. E se as novas tecnologias puderem dar uma ajuda, acho absolutamente defensável.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Gostava de ter outro feito. De ser mais resignada e de achar que o que tenho e o que faço já é bom que chegue e não pensar em ir mais além. Gostava de acreditar que a vida é apenas isto e aceitar que a realidade é sempre diferente dos sonhos, que os sonhos nunca se concretizam todos nem por todo. Gostava de não assumir os sonhos dos outros como se dos meus se tratassem e não me importasse realmente em realizá-los (ou ajudar a realizá-los). Gostava até de não prestar tanta atenção aos outros e aos problemas dos outros. Gostava de ser capaz de deixar de lutar pelas coisas em acredito e de deixar de tentar mudar o meu mundo quando acho que as coisas não estão bem. Ser capaz de olhar para o lado, de ignorar o que está mal e de deixar andar. De acreditar que o tempo conserta tudo e o que não tem remédio remediado está. Ser capaz de assistir impávida e serena àquilo que eu acho erros, sem manifestar qualquer tipo de opinião. De conseguir dar até a outra face, de vez em quando.
Seria bem bom ser um bocadinho mais egoísta, mais resignada, menos impulsiva, menos emotiva.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Por mais que queira, não posso deixar de pensar que é pouco... Há gente que, de gente, tem muito pouco. E eu, por pensar assim, se calhar, também. Que se lixe!

terça-feira, 17 de março de 2009

"Enquanto fazes o paralelismo entre a tua vida e a vida do país, dou por mim a perder-me na descoberta das diferenças que o tempo provocou em ti. As físicas, vejo eu; as psicológicas, contas-me tu. Que vives em crise, à beira do colapso, mas que tens de ter calma e esperar por melhores dias que uma viragem agora, por mais pequena que fosse, deitaria tudo a perder. E tens mais a perder do que a ganhar com a mudança. Que o certo que tens, ainda que não te complete, dá-te aquela segurança da rotina diária e qualquer pessoa no teu lugar se sentiria feliz na tua vida. Que tens filhos e reponsabilidades e que não ganhas para te sustentar a ti quanto mais a eles. Que não és livre de fazer o que te dá na real gana e, se fosses, nem sabes o que farias. Que nem todos são como o que tens dentro dos lençóis, que, apesar do encanto de outros tempos já lá ir bem longe, consegue olhar para ti como a mãe e a mulher que envelheceu com ele e lhe proporcionou uma data de coisas na vida, e não como a quarentona, com rugas acumuladas pelas noites mal dormidas e queimadelas de tanto fazer jantares e almoços. Que esse outro, apesar das mensagens sôfregas a meio da manhã, que levam aos almoços clandestinos à beira-mar e a às tardes passadas no motel que estiver mais à mão, não é para sempre. Se os outros não foram, este não será certamente. Que não lho podes dizer para não quebrar o encanto e que assim vais andando até um dia. Que por mais que até te apetecesse mudar de vez, não podes, que a tua vida não está para isso. Que a tua vida não te permite isso."

quinta-feira, 12 de março de 2009

Qual paridade qual quê?

Paridade, igualdade, não discriminação em função do sexo, tudo tretas. Por mais que custe, por mais camufladas que as coisas estejam e que, aparentemente, já tenha havido uma grande alteração de mentalidades, a verdade, verdadinha é que pouco mudou e pouco mudará nas próximas décadas (séculos?). As mulheres não são tratadas como os homens, não têm as mesmas oportunidades. Têm mais obrigações e mais tarefas, isso sim.
Uma mulher (das modernas, das denominadas modernas) estudou o mesmo número de anos (ou mais), teve as mesmas notas (ou mais), trabalha as mesmas horas (ou mais), tem as mesmas responsabilidades (ou mais). Se quer investir na carreira, tem de pensar como é que vai fazer com o jantar, com a roupa que se acumula para lavar e passar, em que empregada vai contratar, no tempo que tem para fazer a lista do supermercado e para lá ir. Tem de organizar a casa e organizar-se a si. Se quer ter filhos e trabalha, tem de pensar muito bem em quando os vai ter, se é o momento certo ou se mais vale esperar, tem de pensar em como irá reagir a entidade patronal com a licença de maternidade e com as saídas e faltas que se seguirão nos primeiros anos de vida dos filhos. Tem de lidar com o envelhecimento como uma maldade da natureza que lhe atrofia as oportunidades e lhe nega a sedução, que as mulheres não são homens e os cabelos brancos não agradam e não são sinónimo de charme, nem de experiência, nem de estabilidade profissional. Uma mulher tem o relógio biológico sempre a trabalhar.
O homem, quer se goste, quer não, assume, mais ou menos descaradamente, uma posição bem superior, bem mais vantajosa. Qual é o homem que está disposto a sacrificar a carreira em prol de um filho? Qual é o homem que toma a iniciativa de arcar com as lides domésticas? Qual é o homem que não tem se acha capaz de seduzir uma miúda mais nova?
Não me venham cá falar em igualdade, porque a igualdade se vê nas pequenas coisas. E se a natureza não permite essa igualdade, não se fez nem faz por compensá-la. Porque as mentalidades demoram tempo a mudar e nem sempre dá jeito mudá-las.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Há dias assim

Há dias em que me canso de puxar pelos outros. Não me apetece ser aquilo que esperam de mim, porque as (minhas) forças também acabam e o espírito não é sempre o mesmo. Não estou para conselhos ponderados, nem análises profundas de vidas alheias que esperam que as impulsione com uma palavra acertada. Não estou para provocar risos nem sorrisos. Não me apetece fazer planos que preencham a minha vida e a dos outros, nem para iniciativas de qualquer género. Não me apetece ter ideias para dar, conversas para alimentar. Não me apetece socializar. Não sinto forças para discutir o sexo dos anjos nem os comportamentos dos humanos. Não me apetece dizer nem mal nem bem do que me rodeia. O que me apetecia mesmo era que me esquecessem por uns dias, deixar as obrigações e recuperar forças, ter um plano só meu traçado por mim ao sabor dos meus desejos e das minhas vontades. Apenas. Desejos e vontades e planos em que não tivesse de incluir ninguém e sobre os quais ninguém tivesse que opinar. Simplesmente porque não têm nada com isso. Hoje, não me apetecia ter laços de tipo algum. Nem responsabilidades e muito menos obrigações. Apetecia-me, sim, uma rede presa numa árvore ao sol, o silêncio e as construções dos meus castelos no ar. Só dos meus.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Confessou que era viciado na paixão. Não o percebi logo. Aliás, só a convivência prolongada e profunda me fez entender a afirmação que, naquele dia, usou como cartão de visita. Recebi telefonemas a meio da noite num pranto em que mal se distinguiam as palavras, fotografias por e-mail de louras e morenas na praia e na neve em biquinis ou de gorro, jantámos nunca os mesmos quatro por mais do que duas vezes, soube-o mais longe ou mais perto, a mudar de vida em função desta ou daquela. Contava-me, mais do que o que fazia com elas, o que fazia por elas, com os olhos a brilhar de um entusiasmo novo na medida em que elas também o eram. Eram flores entregues no local de trabalho e chocolates em forma de telegrama, eram fins-de-semana em Paris num hotel digno da Grace Kelly. Arranjava nomes carinhosos sempre diferentes para todas elas. O que não suportava era a rotina. Aprendi a perceber no incremento de séries que via e de camisas compradas que o fim tinha chegado. Deixava de haver entusiasmo na voz. Os e-mails não passavam de fowards de piadas e de vídeos. O sorriso, ainda que sincero, não tinha aquela força que iluminava o olhar. Das primeiras vezes, motivada pela ignorância de quem não sente da mesma maneira, quis saber o motivo da inconstância. Recebi como resposta, a frase que lhe serviu de apresentação.