terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Depois de um fim-de-semana cheio de filmes, tenho de assumir que, cada vez, gosto mais de filmes de gente. De gente que ri, chora, grita, ama e odeia, que se perde na vida e que se encontra. De gente como eu (como nós?).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009



Detesto falar com alguém que põe o telefone em alta-voz. Não me venham cá dizer que é prático, que deixa as mãos livres para fazer outras coisas e que é bem melhor do que os torcicolos causados pelo apoio do telemóvel ou do auscultador do ombro segurado com o pescoço que isso, a mim, não me diz nada. É horrível falar com alguém que põe o telemóvel em alta voz e pronto.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Em relação aos fundamentos das declarações "polémicas" de Dom José Policarpo da passada semana, limito-me a dizer que o Senhor está cobertinho de razão e que basta ler um ou dois daqueles livros que retraram o que, em nome de uma religião, os homens ousam fazer às mulheres para achar que ele ainda foi muito suave.
Isto não há cá religiões melhores nem piores. O que há é abusos cometidos em nome de um Deus e que resultam apenas de interpretações humanas de textos que dão azo aos mais revoltantes actos de falta de humanismo. E se na católica já não se praticam tais actos de forma tão ousada quanto há uns míseros séculos, essa que segue o Corão está bastante mais atrasada.
Dom José chamou a atenção para o assunto e fez bem. Muitíssimo bem. Não se trata de dizer que a minha religião é melhor do que a tua, nem de dizer que eles é que são os maus. Do que se tratou foi, no meu ponto de vista, de chamar a atenção para o facto de se ter bem a noção de que uma união com alguém de tal religião poderia trazer resultados bem negativos.
Não disse nada que não se soubesse já. O que não fez - e daí a polémica - foi dizer o que ninguém tem coragem de dizer. Porque faz parte do bom entendimento o não se falar em assuntos melindrosos, o não ferir susceptibilidades e o fazer de conta que não existe, que não se vê ou que não se sabe.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

Fernando Pessoa



Segundo li, vai voltar à carga a discussão do casamento entre homosexuais.
Eu sou completamente a favor e não entendo, francamente, as mentes retrógragas e pseudo-púdicas que se afirmam contra. Aliás, a não ser pelo preconceito religioso, não li ainda uma opinião fundamentada do grande mal que vem ao mundo se pessoas do mesmo sexo tiverem o direito de poder contrair matrimónio entre si.
Do pouco que sei dos cânones religiosos, a finalidade última do casamento é a procriação e o casamento é para todo o sempre (aquela história que o que Deus uniu o homem não pode separar e tal). O que equivale a dizer que só se podem casar pessoas de sexo diferente porque são as únicas capazes de ter filhos, que isso sim interessa mais do que o amor. E que, corram as coisas bem ou mal, estejam as pessoas felizes ou não (filhos incluídos), vão ter de se gramar um ao outro até oa fim dos seus dias, qual castigo por se terem junto em alguma fase das suas vidas.
Dando de barato que ainda há gente que se identifica com tais cânones e que, por isso mesmo, e apenas por isso, decidiu casar pela Igreja, há que convir que a maioria da população (felizmente, quanto a mim), não se revê em nada disto. A maioria das pessoas que casa pelo Igreja fá-lo ou para agradar aos progenitores ou porque a espectacularidade do acto é bem maior. E por nenhuma outra razão. E nem esses casam com a finalidade única de ter filhos e com a certeza de estar a criar um vínculo que seja mais duradouro do que o amor que os une.
A vida mudou, as realidades mudaram e os cânones em questão não se compadecem com a nossa realidade. Ponto final. Ter filhos, mesmo que seja um objectivo (que o é na maior parte dos casos) é mais complicado hoje do que há anos atrás e o amor para sempre até pode existir, mas é cada vez mais raro. Convenhamos.
(Sobre isto, os casamentos entre heterosexuais, se me der praí, poderei falar noutro post.)
As pessoas casam-se porque, em determinada altura, querem juntar a sua vida à da pessoa que amam, convencidas que o sempre equivale a enquanto houver amor entre eles, porque querem dar uma maior seriedade ao relacionamento ou mostrar ao mundo que se amam e que apostam naquela relação de um modo especial. Podem querer ou não ter filhos, mas não é isso que os move.
Sendo esta a realidade das coisas, não consigo entender por que motivo há praí gente a achar que pode impedir que duas pessoas do mesmo sexo optem por casar. Como se amar alguém do mesmo sexo fosse menos digno do que amar alguém do sexo oposto e, por esse motivo, não se pudesse conferir seriedade oficializando um relacionamento. Porque, poesia à parte, é mesmo disso que se trata: de oficializar as coisas. A homosexualidade é mais do que normal nos dias que correm. Já se deixou essa discussão há muito tempo, felizmente. E o casamento, mais do que banal nos dias de hoje. Portanto, qual é o grande problema de duas pessoas do mesmo sexo irem à Conservatória do Registo Civil, e assinarem um contrato de comunhão de vida?
O amor entre eles não é menor. É tão digno de respeito e de celebração como o dos outros.
(Ah, e não. Não é um reflexo da minha orientação política.)

Das coisas inexplicáveis que tenho na minha vida, uma delas é o abominar o cheiro de tangerinas, clementinas, naranjas, laranjas e afins. Detesto, põe-me agoniada, mal-disposta, enjoada e sei lá mais o quê.
Não como nada disso porque não suporto o cheiro. E não consigo estar perto de alguém que esteja a comer tal coisa ou que tenha acabado de a comer.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Bimby

Este fim-de-semana, conheci pessoalmente a Bimby.
Depois de ter ouvido falar tanto e tão bem, depois de ter lido alguma coisa sobre o assunto para poder saber do que falam, conheci-a. Não sucumbi a uma demonstração com o intuito de ma vender (ainda não estou nesse ponto de demência de aceitar demonstradores/vendedores em casa para impingirem electrodomésticos), mas jantei um jantarinho feito nela (quase todo) feito por alguém completamente rendido aos seus encantos que não se cansou de a elogiar a cada garfada.
Não foi (desta vez) por uma questão de mau feitio, mas sim uma questão de forretice, ou melhor, de ter mais o que fazer com o meu rico dinheirinho, e de análise objectiva e com uma visão prática da culinária de que a experiência já me dotou que me fizeram não me render aos pseudo-encantos da dita.
A Bimby é cara como tudo. Melhor, para as minhas necessidades de cozinha, é um investimento que não compensa. Jamais pagaria € 1.000,00 por um electrodoméstico que faz o que ela faz. Se fizesse tudo aquilo que eu sonho que um electrodoméstico possa fazer, aí sim, pagava isso e até mais. Talvez um dia lá cheguemos.
Lá no livro de receitas (bem giro, por sinal) que a acompanha, diz que a Bimby faz desde sopas, a arroz de polvo, a gelados, a bacalhau com natas, a lasanha. Uma multiplicidade de coisas. Para meu desencanto, não é bem assim. Fazer tudo isso, para mim, implica, ir comprar os ingredientes, lavá-los, cortá-los, misturá-los, pô-los no recipiente correcto e fazê-los chegar à mesa. E isso, a Bimby não faz. Ir ao supermercado, vamos nós; lavar e cortar os alimentos, lavamos nós; colocá-los dentro dela, colocamos nós; ligá-la, escolher a velocidade e o tempo, escolhemos nós. No caso de pastéis de bacalhau, por exemplo, ela mistura tudo, é um facto, mas não os frita. Logo, depois da Bimby, cá entramos nós a fritá-los, se queremos. Com a lasanha o mesmo. Há que dispôr em camadas e levar ao forno.
Portanto, quando muito, a Bimby presta uma ajuda. Uma ajuda preciosa para quem desconhece em absoluto o mundo da culinária e gosta da tecnologia. Para quem nunca fez nada, ter uma ajuda que indique as quantidades e que misture no tempo certo, é importante. Conseguir "fazer" comida comestível, é uma vitória. E mais vale fazê-lo com na Bimby do que não o fazer de todo.
Agora para quem cozinha (melhor ou pior), a Bimby é uma ilusão perfeitamente dispensável.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Fases

Quando nascemos, o círculo das pessoas que nos rodeia é formado pelos pais e familiares mais próximos. O conceito de amizade, de empatia por estranhos e da construção de relações com eles vai surgindo à medida que vamos construindo a nossa vida, deixando esta de nos cair do céu ou de nos ser imposta. Parte do nosso livre arbítrio, sim, mas também das circunstâncias da vida. Da nossa e da dos outros.
Não é à toa que escolhemos A ou B para serem nossos amigos (e eles nos escolhem a nós, bem entendido), não é à toa que nos sentimos mais próximos de A ou B em certo momento. Tem tudo, mas tudo, a ver com a fase da vida em que nos encontramos e eles se encontram. É essa fase que faz as cumplicidades serem mais fortes. E as amizades também.
Se o meu horário de trabalho é de noite, é natural que me aproxime mais de quem está acordado às mesmas horas que eu. Se estou a preparar o meu casamento, interessam-me mais as conversas de quem já preparou o seu, do que as conversas sobre o que se passa nos bares da moda. Se estou a divorciar-me, procuro quem já se divorciou e quem se está a divorciar e não quem tem um casamento 5 estrelas (se é que há casamentos 5 estrelas). Se tenho pouco dinheiro, procuro quem possa gastar tão pouco quanto eu e não quem acha que uns sapatos de € 500 são perfeitamente acessíveis. E por aí fora.
Se isto vale para o início da amizade, vale também para o desenrolar dela. As aproximações e empatias iniciais estão lá. Ficaram lá. Provocaram vivências inesquecíveis que uniram as pessoas. Podem é manter-se ou nem tanto. Dependendo das circunstâncias da vida, a empatia que se sente com o amigo A ou com o amigo B vão sendo diferentes. E os temas de conversa também. Mesmo que não se diga, pensa-se: "para que é que te vou falar disto se tu não entendes?". Mais vale falar de outra coisa. E, convenhamos: entre amigos mesmo, há sempre qualquer coisa.

Quem ou quando?



No fim-de-semana passado, entre outros, vi este "Definitely, Maybe" de Adam Brooks.
Questionado pela fiha de 10 anos, o pai, em processo de divórcio, vê-se obrigado a contar à filha a história de amor da sua vida. Ainda que o objectivo fosse esta conhecer a história de amor dos pais, o que se vem a descobrir é que o pai tem, porque o deixou fugir em dada altura, o amor da sua vida por reencontrar. Escusado será dizer que, como é costume com este realizador, tudo acaba bem.
Um filme light, uma comédia romântica... simpática.
Há uma frase dita pela April a certa altura do filme (num dos rasgos de aprofundar temas, mas que não passa disso) que me ficou na cabeça. Diz mais ou menos que não interessa tanto o quem, mas sim o quando, referindo-se, naturalemente, às pessoas por quem nos apaixonamos. Traduzindo livremente, o princípe encantado pode cruzar-se no teu caminho aos 18 e não te aperceberes que é o teu princípe encantado e o sapo pode cruzar-se contigo aos 50 e perceberes que é o princípe.
Eu que, assumidamente, acredito no destino e na alma gémea, não posso concordar.
É certo que (com a margem de erro que cabe às generalizações) a maioria das pessoas, na fase da adolescência, da descoberta do eu e do outro, não está minimamente preocupada em saber se quem está ali ao lado é aquele com quem se vai partilhar a vida toda, o pai certo para os filhos ou o marido que vai ter o jantar pronto quando chega a casa. Isso são antevisões que nem sequer existem, "preocupações" que não fazem mesmo parte. Há mas é uma vida para viver, gente para conhecer e o tempo não é para perder. Por isso, pode até deixar-se passar alguém verdadeiramente especial. Mas não a alma gémea.
A alma gémea, o princípe ou a princesa encantado/a, se forem mesmo os verdadeiros, irão reaparecer mais tarde, com toda a certeza.
Se o mais tarde é quando realmente se sente a necessidade de acalmar, de partilhar, de construir um futuro a dois e depois a 3 ou a 4 e por aí fora, esse mais tarde está ligado a alguém de jeito. Se já se esperou tanto tempo e não surgiu o tal, a exigência aumenta. Mais do que saber o que se quer, sabe-se quem se quer. E isso não é algo de que se abra mão. Não se aceita um substituto só porque sim, porque se está na idade. Se a idade tem alguma coisa a ver com isto, tem forçosamente de ser no sentido de uma maior exigência, e, ao contrário do que se diz no filme, tem tudo a ver com o quem.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Cuspir no prato em que se comeu

Está certo que a paixão tolda a inteligência e a reduz quase a zero e que há coisas inexplicáveis nem que se passem milhões de anos. É vulgar uma pessoa apaixonar-se, viver aquela paixão e achar que "é desta", não conseguir ver o que os outros vêem e andar enganada um tempo. É vulgar acordar depois e achar impossível ter andado tanto tempo adormecida, cega para as evidências e ter até vergonha de se ter apaixonado assim. É mais ou menos vulgar mostrar tal arrepndimento à amiga mais próxima e fazer tudo para esquecer o assunto e apagar os vestígios da possibilidade de alguém vir a descobrir tal facto. É.
Infelizmente, mais vulgar do que isto é o famoso "cuspir no prato em que se comeu" ou "sujar a água em que se lavou" (esta é mais recente para mim). Vulgar e triste como tudo. Ao contrário do que parece, não anula o outro e enaltece quem o diz. Não faz quem está a ouvir pensar que o outro é essa merda que está a ser descrita. O que provoca (pelo menos o que me provoca) é aquela sensação de estar perante alguém mal resolvido, que não engoliu muito bem o fim e que quase de certezinha que não queria o fim. Soa-me a gente mal amada, mal fodida e frustrada.
Por pior que tenham corrido as coisas, já a minha avó dizia que "a culpa não morre solteira" e que "quem desdenha quer comprar". Por isso, quem passou à frente, de facto, quem pôs e aceitou o ponto final, quer mas é um parágrafo novo, uma página nova se possível e nem se lembra sequer dos defeitos de quem já lá vai. Muito menos gasta energia a deitar abaixo. Simplesmente porque já não tem sequer essa importância.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"Já perdi a conta às vezes que fiz refresh na página do teu blog, na esperança de que, por magia, lá estivesses a contar-me mais de ti. Que ideia a minha achar que tu escreves para mim e que mais ninguém te lê, agora que os blogs são a moda da internet! Logo tu que nem sequer imaginas que eu existo e que te leio e que te imagino num corpo e numa cara que são só meus. Logo tu que estás tão nas tintas para quem te lê que fazes questão de não aderir ao sitemeter. Escreves porque te apetece apenas. Não permites comentários nem tens um e-mail para onde eu possa escrever quando o desespero já é mais do que muito. É que a falta de posts pode sempre indiciar que te fartaste e que foste à tua vida. E isso, magoa-me. Magoa-me saber que tu tens uma vida para além desta e uma cara e um corpo que não são os que eu imagino. Que te alimentas e que trabalhas e que acordas com alguém que não eu. E que eu não posso fazer mais do que continuar a ler-te. E a imaginar-te. E a ter-te só para mim assim."

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Se há coisa que temo na vida é de me tornar uma mulher amarga. Mais do que perder a lucidez e viver num mundo só meu que me faça andar aos encontrões no meio da rua, tenho pavor mesmo é de amargar.
(In)felizmente, tenho-me cruzado com mulheres deste tipo e fujo delas como o diabo da cruz. Não sou paciente nem tolerante nem compreensiva, lamento. Trazem más energias e acho-as um caso completamente perdido. Abrem a boca para sair veneno, sugam a energia alheia, só descansam quando vencem o interlocutor pelo cansaço que o leva a dizer amén a todas as baboseiras que lhes saem pela boca fora, como se o mundo fosse o vilão que lhes fez mal, a elas, pobres coitadas, que só merecem o melhor e sempre fizeram por isso. Incapazes de reconhecer os próprios erros, de analisar, ainda que semi-objectivamente, as causas e as consequências, destilam veneno por todos os poros, exigem compaixão e invejam o que de bom acontece aos outros, mesmo que se armem na mais altruísta das almas. Não estão bem consigo mesmas, nem com ninguém. Mas negam ajuda. Só querem que as ouçam e que lhes digam que sim. Nada de contrariar nem de sequer ousar dizer umas verdades, que a realidade delas é bem penosa e já chega de contrariedades. São egocêntricas e egoísticas e cegas.
Diferentes, são as mulheres amarguradas. Tiveram também as suas desilusões de vida, porque esta, afinal, não saiu nem perto do que imaginaram. Mas aceitam. Em sofrimento, mas aceitam. Aceitam sem querer contaminar o resto do mundo com os seus males e desejando aos outros que vivam a vida deles da melhor maneira e que não cometam os erros que elas cometeram. Lutam por um mundo melhor, para os outros, que ao seu já não há grande volta a dar.