terça-feira, 17 de março de 2009

"Enquanto fazes o paralelismo entre a tua vida e a vida do país, dou por mim a perder-me na descoberta das diferenças que o tempo provocou em ti. As físicas, vejo eu; as psicológicas, contas-me tu. Que vives em crise, à beira do colapso, mas que tens de ter calma e esperar por melhores dias que uma viragem agora, por mais pequena que fosse, deitaria tudo a perder. E tens mais a perder do que a ganhar com a mudança. Que o certo que tens, ainda que não te complete, dá-te aquela segurança da rotina diária e qualquer pessoa no teu lugar se sentiria feliz na tua vida. Que tens filhos e reponsabilidades e que não ganhas para te sustentar a ti quanto mais a eles. Que não és livre de fazer o que te dá na real gana e, se fosses, nem sabes o que farias. Que nem todos são como o que tens dentro dos lençóis, que, apesar do encanto de outros tempos já lá ir bem longe, consegue olhar para ti como a mãe e a mulher que envelheceu com ele e lhe proporcionou uma data de coisas na vida, e não como a quarentona, com rugas acumuladas pelas noites mal dormidas e queimadelas de tanto fazer jantares e almoços. Que esse outro, apesar das mensagens sôfregas a meio da manhã, que levam aos almoços clandestinos à beira-mar e a às tardes passadas no motel que estiver mais à mão, não é para sempre. Se os outros não foram, este não será certamente. Que não lho podes dizer para não quebrar o encanto e que assim vais andando até um dia. Que por mais que até te apetecesse mudar de vez, não podes, que a tua vida não está para isso. Que a tua vida não te permite isso."

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