sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Jantares de Natal

Isto das tradições assemelha-se mais às imposições que outra coisa. Ano após ano, grande parte da população (mundial, eu diria) vê-se obrigada a participar em rituais colectivos para os quais não tem a mínima paciência; mas também não tem a coragem de assumir um "não".
Com a aproximação do Natal, tudo isto tem tendência a acentuar-se.
Os fretes familiares a que a maioria das pessoas se vê obrigada, como sejam deslocações para trás do sol posto quando não apetece nadinha para um jantar e um almoço com família que diz menos que os amigos e uma noite numa cama estranha não são nada quando comparados com os jantares de Natal profissionais.
Neste mês, abundam as confraternizações que não acontecem durante o ano uma única vez. Ele é e-mails cheios de enfeites de Natal acompanhados por ementas e sugestões de restaurantes, ele é telefonemas entre colegas para saber quem vai e assim poder situar a sua vontade, ele é telefonemas a pedir confirmações, ele é tentar saber se a chefia vai. Ele é, basicamente, o diz-me quem vai, dir-te-ei se vou, que a vontade não é nenhuma mas não quero ficar mal na fotografia.
Nessa noite, vai-se casual-formal, cada um senta-se perto de com quem mantém alguma afinidade, come o mais rápido possível, faz conversa de circunstância q.b., evita-se beber a mais, se possível passa-se o tempo agarrado ao telemóvel, presta-se atenção a quem inventa a primeira desculpa para ter de ir embora e segue-se-lhe os passos. No caminho para casa, jura-se que no ano seguinte não se vai, doa a quem doer. No dia útil seguinte, diz-se mal de tudo e de todos, mas sorri-se nos corredores e diz-se a quem interessa que estava tudo muito bom.

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