sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Hoje parei para olhar para ti. Nem te apercebeste que te olhava mais demoradamente do que o costume enquanto o semáforo não mudava para a côr de nos deixar passar. Foi a escuridão dos óculos que me deixou aperceber-me que o tempo de te fez diferente e que eu não me dei conta. Não te olhava há tanto tempo por te ver todos os dias que nem me tinha dado conta das mudanças. Se não me ponho a pau, qualquer dia, não te conheço. As tuas mãos mudaram: as tuas unhas já não são as tuas, mas essas que podem ser de qualquer uma, mas o anel que te dei continua lá, no dedo de sempre, e não te atrapalha na maquilhagem que agora fazes dentro do carro de frente para o espelho minúsculo que está por detrás da pala. Trazes todo um arsenal dentro da carteira que vais pondo pelo caminho para cobrir os traços do tempo que não tem sido generoso contigo. Abusas da base e do rímel. Os teus saltos aumentaram, os teus decotes também. O teu cabelo clareou. Quntas diferenças encontro em ti! E o resto? Estará diferente? Não sei o que mudou em nós. Não tenho estado praí virado. Entrámos numa rotina tal que nem me lembro bem de ti. Sei que partilhamos a comida e a cama, a viagem de ida para o trabalho, as contas e ... pouco mais. Já me esqueci do que gostas, do que te faz rir. Há quanto tempo não te ouço uma gargalhada! Há quanto tempo não te vejo uma lágrima! O semáforo mudou de côr. Fixei os olhos na estrada e parei à porta do teu trabalho. Saíste do carro e atiraste a porta com um bom dia. Apenas. Sem beijo.

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