quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Transparência

Nos dias que correm, a menos que a minha realidade seja muito desfasada da dos outros, um relacionamento só acontece porque ambas as partes querem. Já não há casamentos porque tem de ser nem namoros forçados. Num universo cheio de oferta, em que cada um vive e experiencia o que bem lhe apetece, com quem lhe apetece e quando apetece, não há razão nenhuma, para além da vontade própria, para alguém assumir um compromisso com outrém. Pode até ser difícil dizer que não porque o(a) outro(a) tinha todas as qualidades para nos fazer ir mais além, mas se não há o clic que prende e que faz querer, não há volta a dar-lhe e pode demorar tempo e o fim ainda não se ver, mas que e certinho, é.
Assim, eu junto-me contigo porque te acho especial e acima da média que conheço e tu juntas-te comigo exactamente pelas mesmas razões.
Está bem que a média que eu conheço não é aquela que poderei vir a conhecer e, como tal, aquilo que, hoje, eu acho o melhor, pode não o ser amanhã. Pode. Mas esse é o risco inerente à vida em geral e não apenas aos relacionamentos. Cabe ao próprio, enquanto presente do outro, fazer por ser futuro e por se tornar sempre o melhor. Que isto de fácil não tem nada e que o risco é grande, são dois factos. Mas que é a única maneira de vingar, é. Aliada, claro está ao recíproco, ou seja, à relatividade do outro ser o melhor. Complicado? Eu explico. Podemos deixar de ser o melhor para o outro, podemos. Mas o outro também pode deixar de ser o melhor para nós. E isso não resolve, mas ajuda.
Por isso é que me custa a perceber a falta de transparência nos relacionamentos. São as sms às escondidas e os telemóveis no silêncio, os e-mails apagados assim que são enviados e recebidos, os lugares onde não se quer ir a dois, a ausência de identificação de com quem se está ou esteve e a omissão informação sobre onde se esteve ou mesmo a mentira.
Se com quem se esteve, a quem se escreveu ou a quem se telefonou não é importante ao ponto de abalar o sentimento pela pessoa com quem se está, porque razão não partilhar essas informações? Porque razão fazer crer ao outro que nada disso existe? Quem está connosco conhece-nos bem, sabe ler nas entrelinhas e ver aquilo que não se mostra. Dependendo da personalidade de quem está connosco, das quatro uma:
- ou se faz de parvo e deixa andar, porque, de facto, nada disso o afecta e até entende que, apesar de ridículo, é uma tentativa de manter um mundo próprio capaz de testar a capacidade de sedução nos outros;
- ou arranja uma confusão do caraças e discussões de meia-noite e se torna inseguro, chato e caminha para o fim;
- ou põe um ponto final ao relacionamenteo, porque não é isso que quer;
- ou faz exactamente a mesma coisa.
Seja lá qual delas fôr, o mais certo é ser o princípio do fim de algo que até poderia ter sido bem bom.

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